des pedaço
para Hipátia
ou uma ode à mortalidade

Quanto pesa
o seu coração?
O monólogo possui dramaturgia e atuação de Fernanda Assef, direção de Amanda Steinbech, música de Amarilis, luz de Felipe Tchaça. Com dramaturgia criada a partir do encontro entre a pesquisa particular da atriz e dramaturga sobre Hypatia e filosofia neo-platônica com a pesquisa cênica-poética da diretora sobre o luto e seus rituais.
No centro da dramaturgia:
uma ausência.
O ponto de partida da dramaturgia é o desejo de trazer à cena parte da trajetória de vida da filósofa antiga Hypatia.
Da dificuldade em encontrar dados de sua vida cunhados de próprio punho e da sensibilização pela experiência vivida na pandemia, o projeto foi se tornando organicamente uma ode à vida por meio da consciência da nossa mortalidade.
HIpátia é a força motriz que nos revela a impossibilidade de reviver a existência de alguém. Ela nos revela a verdade de que um dia seremos todos fragmentos, pedaços que deixamos de nós naqueles que por aqui ainda caminham. O primeiro impulso desta montagem, e mais evidente deles, é o festejar a vida e o encontro com o outro, tomando consciência da nossa finitude. Consciência esta que esteve tão latente nos anos de pandemia e isolamento que todos enfrentamos.
Para além do isolamento e da convivência com a fragilidade de nossas vidas, está o processo de ritualização dos nossos mortos. E dos mortos dos espectadores do espetáculo. Lembremos que as mortes por COVID, mais de 700 mil no Brasil (um dos países com maior mortalidade), careceram de ritos fúnebres. Os quais, ao não serem vivenciados, abriram uma ferida profunda.
Diante disso o extremismo político e o ataque sistemático às minorias, às mulheres, à educação e ao pensamento científico ficou ainda mais latente e cruel. E a polaridade política dos últimos anos que nos distanciou tanto de entes queridos ficou ainda mais dura e sem sentido. O desejo de amor e de comunhão nunca foram tão sentidos.
Ainda que o texto não aborde diretamente notícias e dados atuais, de forma transversal, ao falarmos sobre a vida rara e a morte violenta dessa mulher, Hypatia, tocamos de forma sutil e poética em temas como: o feminicídio, a violência, a intolerância religiosa, o questionamento ao saber científico e a importância da educação como motor fundamental da sociedade.
Temas que sempre provocaram ações violentas na história da humanidade e que emergem nesse nosso tempo histórico com grande força. Estão lá, sem serem o centro do espetáculo. Afinal, estamos todos cansados da morte. E se é verdade que ela está em tudo, aqui está para lembrar o valor imensurável de cada vida.